Se você acha que os olhos azuis começaram a aparecer na época da idade média europeia, e que a intolerância à lactose é um mal do nosso tempo, está redondamente enganado. O gene para essas duas características é mais antigo do que cientistas do mundo inteiro imaginavam.
A origem dos olhos azuis
O esqueleto de um homem espanhol da idade da pedra, com cerca de 7 mil anos, foi descoberto pela equipe internacional de pesquisadores do Instituto de Biociências Molecular da Universidade de Queensland (Austrália). Desde então, eles vêm desenvolvendo uma série de pesquisas com o objetivo de entender o impacto da evolução dos primeiros seres humanos caçadores para uma sociedade agrícola.
Segundo o professor Rick Sturm, um dos líderes da equipe que descobriu o esqueleto, os genes encontrados nele também deixaram boas dicas de como era a aparência dos homens da idade da pedra.
Ao analisar o genoma de um de seus dentes, os cientistas encontraram evidências incríveis: o homem tinha genes para pele e cabelo escuros, mas para olhos azuis. E como essa combinação de genes é única e não existe mais nos europeus hoje em dia, a conclusão é que o gene para olhos azuis pode ter se espalhado pela população europeia muito antes que o gene para pele clara.
E as descobertas não param por aí: uma equipe liderada por pesquisadores do Instituto de Biologia Evolutiva da Espanha e da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, também investigou genes associados à dieta e descobriu que esse caçador Mesolítico, de mais de 7 mil anos, carregava ainda o gene para intolerância à lactose.
Intolerância brasileira
Para quem não sabe, a intolerância à lactose consiste em uma incapacidade de digerir produtos lácteos como leite, queijo, manteiga, etc., e está cada vez mais presente na nossa sociedade. No Brasil, 43% dos brancos e dos mulatos têm o alelo de persistência da lactase, ou seja, são geneticamente predispostos a ter intolerância à lactose, dado mais frequente entre os negros e japoneses.
No entanto, tanto quanto 70% dos adultos brasileiros pode ter algum grau de intolerância a lactose, o que significa que ainda podem consumir laticínios, mas terão algum sintoma leve. Em países asiáticos, cerca de 90% da população chega a ter problemas com a lactase em algum grau.
Esses números parecem altos, mas a explicação é simples. De acordo com Rejane Mattar e Daniel Ferraz de Campos Mazo, do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a atividade da enzima lactase diminui na parede intestinal após o desmame na maioria dos mamíferos, o que significa que logo que deixamos de ser bebês começamos a ter sintomas de intolerância à lactose.
A intensidade desses sintomas varia dependendo da quantidade de lactose ingerida, e pode aumentar com o passar da idade. Segundo Ricardo Barbuti, gastroenterologista membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia, todo mundo que tem geneticamente a intolerância tem uma má absorção de lactose, mas isso não causa sintomas sempre.
Outro estudo brasileiro, feito pela Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), que queria correlacionar a prevalência da condição com faixa etária e sexo mostrou que, dos 1.088 indivíduos testados, 37,6% eram normais, 18,29% eram limítrofes (quase tinham intolerância), e 44,11% eram intolerantes a lactose. A incidência de intolerância mostrou-se crescente até a faixa dos 31 a 40 anos, e não teve diferenças significativas entre os sexos.
Fonte: Portal Hype Science